tropeçou pelo caminho, agarrado à minha mão, arrastando a mochila de
rodinhas, uma enorme mochiça oca, vazia de livros. disse: 'ainda falta
muito?' ignorei-o, como só eu sei e continuei a puxá-lo pela mão.
entreguei-o à porteira da escola, ele de casaco verde alface e
guarda-chuva do spongebob, eu a dizer-lhe adeus, a acenar-lhe com a mão.
voltou a cabeça. olhou para mim, aqueles olhos enormes, as pestanas
reviradas, o cabelo rapadinho por causa dos piolhos da semana passada e
foi levado pela correnteza. virei a cara e comecei a falar com duas mães à
porta da escola. perdi-o de vista e procurei-o, a ele e ao seu casaco
verde, ao longo da subida, pelo gradeamento, em direcção ao carro.
o olhar do pedro não me sai da cabeça. deixei-o, eu, a mãe, naquela escola tão grande, ele tão pequeno, eu tão amargurada.
(a maternidade é uma coisa lixada. acabou-se o controlo, o meu
auto-controlo, a minha vontade própria, a minha existência egoísta,
única, só minha.)
Sem comentários:
Enviar um comentário