terça-feira, 10 de dezembro de 2013

sou mãe há sete anos mas nunca me considerei talhada para a maternidade: os bebés não me atraiam e a responsabilidade enfadava-me. o que era aquilo por quem os meus irmãos se sacrificavam tanto?

o joão, o primeiro, que nasceu quase morto, feio e magro, sempre cheio de falta de ar, a minha irmã de noites viradas, a limpar o ranho e vomitado e fazer-lhe os fuminhos;
o diogo, que nunca mais se resolvia a abrir os olhos e que cujos pais (idiotas!) achavam que arrastava a perna quando começou a andar,
a madalena, redonda e viva, mas que não comia e fazia birras de meia-noite, chata, insuportável,
a beatriz, bebé enorme, que quase matou a mãe, nascida com ar zangado para o mundo, sempre a caminho do hospital, cheia de otites.

que seca!, pensava eu. não entendia como é que os meus irmãos me trocavam a mim, a sua caçulinha, a merdita da tia, por aqueles bebés esgoelados, que insistiam por-me ao colo e nos quais, a custo, lá reconhecia os traços de família.

depois, percebi. troquei-os, a eles, aos manos, num ápice, quando vi o pedro, peludo como um lobisomem, cheio de borbulhas, unhas compridas, sonos longos. gostei dele, daquele manel pequenino, nos braços da minha tia dé, de lenço atado a tapar a boca e nariz, como se fosse um malfeitor do faroeste, a dar-lhe o primeiro banho em casa, mãos firmes, dedos nos ouvidos da criança, para não entrar água, por causa das otites.

continuo a não ser talhada para a maternidade. tenho pouca paciência e cada vez menos tolerância. acerto poucas vezes na muche da educação e da sensatez. sou histérica, grito, ameaço, bato. sou a mãe que nunca quis ser: uma louca à beira do descontrole que se contradiz a cada quinzena.

é verdade aquela piada da mafaldinha: os filhos são cobaias, ninguém nos ensinou a ser pais.

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